Ainda quando um feto
bem menor que a espera
de alguém que tanto paquera
uma flor desabochar
já tinha o nome Dandára
pela raça e pela guerra
e o sonho que um dia ela
seja assim tão camarada
como foram grandes nomes
e outros que ainda vivem
ideias e passos firmes
em nome da liberdade.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

José

Eu sempre tive a sorte de ser A DIFERENTE. Sempre me vesti como uma louca (mas não como uma rebelde sem causa, não confunda), sempre usei palavras que ninguém conhecia (defenestrar era a minha favorita), sempre gostei de coisas que ninguém mais gostava (fossem livros, músicas, artistas ou qualquer outra coisa). Porém, nesse caso especificamente, eu tive que abrir uma exceção. Essa é a poesia de Drumonnd mais famosa de todos os tempos, mas é também minha favorita. É a poesia mais difícil de se dizer DO MUNDO... mas é a que mais me desperta emoções. Leiam, senhoras e senhores (se é que alguém visita essa merda de blog T.T):

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?

*A parte em negrito é a que eu mais gosto. Transmite claramente um medo que eu sempre tive: o medo de ficar sozinha. Eu sinto o desespero do José: "quer morrer no mar, mas o mar secou". Coitado, já não pode nem morrer!

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